terça-feira, 2 de junho de 2009

Para os pais

Inclusão promove a justiça

Para a educadora Maria Teresa Égler Mantoan, na escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa.

"Estar junto é se aglomerar com pessoas que não conhecemos. Inclusão é estar com, é interagir com o outro". Uma das maiores defensoras da educação inclusiva no Brasil, Maria Teresa Mantoan é crítica convicta das chamadas escolas especiais. Ironicamente, ela iniciou sua carreira como professora de educação especial e, como muitos, não achava possível educar alunos com deficiência em uma turma regular. A educadora mudou de ideia em 1989, durante uma viagem a Portugal. Lá, viu pela primeira vez uma experiência em inclusão bem-sucedida. "Passei o dia com um grupo de crianças que tinha um enorme carinho por um colega sem braços nem pernas", conta. No fim da aula, a professora da turma perguntou se Maria Teresa preferia que os alunos cantassem ou dançassem para agradecer a visita. Ela escolheu a segunda opção. "Na hora percebi a mancada. Como aquele menino dançaria?". Para sua surpresa, um dos garotos pegou o colega no colo e os outros ajudaram a amarrá-lo ao seu corpo. "E ele, então, dançou para mim.". Na volta ao Brasil, Maria Teresa que desde 1988 é professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas deixou de se concentrar nas deficiências para ser uma estudiosa das diferenças. Com seus alunos, fundou o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade. Para ela, uma sociedade justa e que dê oportunidade para todos, sem qualquer tipo de discriminação, começa na escola.

O que é inclusão?
É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro.

Que benefícios a inclusão traz a alunos e professores?
A escola tem de ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho para todos é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso não ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela metade. Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele é e o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está em garantir a todos o direito à educação.

O que faz uma escola ser inclusiva?
Em primeiro lugar, um bom projeto pedagógico, que começa pela reflexão. Diferentemente do que muitos possam pensar, inclusão é mais do que ter rampas e banheiros adaptados. A equipe da escola inclusiva deve discutir o motivo de tanta repetência e indisciplina, de os professores não darem conta do recado e de os pais não participarem. Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiências anteriores da turma. As práticas pedagógicas também precisam ser revistas. Como as atividades são selecionadas e planejadas para que todos aprendam? Atualmente, muitas escolas diversificam o programa, mas esperam que no fim das contas todos tenham os mesmos resultados. Os alunos precisam de liberdade para aprender do seu modo, de acordo com as suas condições. E isso vale para os estudantes com deficiência ou não.

Como está a inclusão no Brasil hoje?
Estamos caminhando devagar. O maior problema é que as redes de ensino e as escolas não cumprem a lei. A nossa Constituição garante desde 1988 o acesso de todos ao Ensino Fundamental, sendo que alunos com necessidades especiais devem receber atendimento especializado preferencialmente na escola , que não substitui o ensino regular. Há outra questão, um movimento de resistência que tenta impedir a inclusão de caminhar: a força corporativa de instituições especializadas, principalmente em deficiência mental. Muita gente continua acreditando que o melhor é excluir, manter as crianças em escolas especiais, que dão ensino adaptado. Mas já avançamos. Hoje todo mundo sabe que elas têm o direito de ir para a escola regular. Estamos num processo de conscientização.

A escola precisa se adaptar para a inclusão?
Além de fazer adaptações físicas, a escola precisa oferecer atendimento educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no mesmo local. Assim, uma criança cega, por exemplo, assiste às aulas com os colegas que enxergam e, no contraturno, treina mobilidade, locomoção, uso da linguagem braile e de instrumentos como o soroban para fazer contas. Tudo isso ajuda na sua integração dentro e fora da escola.

Como garantir atendimento especializado se a escola não oferece condições?
A escola pública que não recebe apoio pedagógico ou verba tem como opção fazer parcerias com entidades de educação especial, disponíveis na maioria das redes. Enquanto isso, a direção tem de continuar exigindo dos dirigentes o apoio previsto em lei. Na particular, o serviço especializado também pode vir por meio de parcerias e deve ser oferecido sem ônus para os pais.

Estudantes com deficiência mental severa podem estudar em uma classe regular?
Sem dúvida. A inclusão não admite qualquer tipo de discriminação e os mais excluídos sempre são os que têm deficiências graves. No Canadá, vi um garoto que ia de maca para a escola e, apesar do raciocínio comprometido, era respeitado pelos colegas, integrado à turma e participativo. Há casos, no entanto, em que a criança não consegue interagir porque está em surto e precisa ser tratada. Para que o professor saiba o momento adequado de encaminhá-la a um tratamento, é importante manter vínculos com os atendimentos clínico e especializado.

A avaliação de alunos com deficiência mental deve ser diferenciada?
Não. Uma boa avaliação é aquela planejada para todos em que o aluno aprende a analisar a sua produção de forma crítica e autônoma. Ele deve dizer o que aprendeu, o que acha interessante estudar e como o conhecimento adquirido modifica a sua vida. Avaliar estudantes emancipados é, por exemplo, pedir para que eles próprios inventem uma prova. Assim, mostram o quanto assimilaram um conteúdo. Aplicar testes com consulta também é muito mais produtivo do que cobrar decoreba. A função da avaliação não é medir se a criança chegou a um determinado ponto, mas se ela cresceu. Esse mérito vem do esforço pessoal para vencer as suas limitações, e não da comparação com os demais.

Um professor sem capacitação pode ensinar alunos com deficiência?
Sim. O papel do professor é ser regente de classe, e não especialista em deficiência. Essa responsabilidade é da equipe de atendimento especializado. Não pode haver confusão. Uma criança surda, por exemplo, aprende com o especialista Libras (língua brasileira de sinais) e leitura labial. Para ser alfabetizada em língua portuguesa para surdos, conhecida como L2, a criança é atendida por um professor de língua portuguesa capacitado para isso. A função do regente é trabalhar os conteúdos, mas as parcerias entre os profissionais são muito produtivas. Se na turma há uma criança surda e o professor regente vai dar uma aula sobre o Egito, o especialista mostra à criança com antecedência fotos, gravuras e vídeos sobre o assunto. O professor de L2 dá o significado de novos vocábulos, como pirâmide e faraó. Na hora da aula, o material de apoio visual, textos e leitura labial facilitam a compreensão do conteúdo.

Como ensinar cegos e surdos sem dominar o braile e a língua de sinais?
É até positivo que o professor de uma criança surda não saiba libras, porque ela tem de entender a língua portuguesa escrita. Ter noções de libras facilita a comunicação, mas não é essencial para a aula. No caso de ter um cego na turma, o professor não precisa dominar o braile, porque quem escreve é o aluno. Ele pode até aprender, se achar que precisa para corrigir textos, mas há a opção de pedir ajuda ao especialista. Só não acho necessário ensinar libras e braile na formação inicial do docente.

O professor pode se recusar a lecionar para turmas inclusivas?
Não, mesmo que a escola não ofereça estrutura. As redes de ensino não estão dando às escolas e aos professores o que é necessário para um bom trabalho. Muitos evitam reclamar por medo de perder o emprego ou de sofrer perseguição. Mas eles precisam recorrer à ajuda que está disponível, o sindicato, por exemplo, onde legalmente expõem como estão sendo prejudicados profissionalmente. Os pais e os líderes comunitários também podem promover um diálogo com as redes, fazendo pressão para o cumprimento da lei.

Há fiscalização para garantir que as escolas sejam inclusivas?
O Ministério Público fiscaliza, geralmente com base em denúncias, para garantir o cumprimento da lei. O Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Especial, atualmente não tem como preocupação punir, mas levar as escolas a entender o seu papel e a lei e a agir para colocar tudo isso em prática.


Bibliografia:
Direitos das pessoas com deficiência: garantia de igualdade na diversidade
, Eugênia Augusta Fávero, Ed. WVA.
Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer?, Maria Teresa Eglér Mantoan, Ed. Moderna.

Publicado pelo site Nova Escola:
http://www.novaescola.com.br/

Para os professores

O diálogo entre os textos

Literatura

Objetivos
Entender os conceitos de paráfrase, paródia e epígrafe e as demais relações entre os textos, revisar cronologicamente alguns momentos da história literária.

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Reportagem da Veja: Modelo lusitano

Introdução
Quem não ouviu falar nas aventuras de um náufrago inglês numa ilha deserta, em luta pela sobrevivência? Ou nos delírios do cavaleiro andante que investia contra moinhos de vento, vendo neles temíveis gigantes? Ou no ardil do cavalo de madeira que deu aos gregos a vitória na guerra de Tróia? Tais histórias vêm apaixonando gerações. Seus episódios, que já preencheram inumeráveis serões familiares, são hoje recontados em versões resumidas para o público jovem, em quadrinhos, filmes e desenhos animados.

Desse modo, tornaram-se conhecidos mesmo por quem não leu a versão original das obras-primas que os apresentam: Robinson Crusoe, do inglês Daniel Defoe (1680-1751), D. Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) e a Ilíada, atribuída ao grego Homero (séc. VIII a.C.). Por tudo isso, quando pesquisadores sugerem que Defoe "beira o plágio" de relatos portugueses do séc. XVI, a notícia ultrapassa os limites da Academia e ganha a imprensa, com a reportagem de VEJA.

As influências entre textos literários, contudo, não se restringem à oposição "inspiração genuína x plágio". Ricas e complexas, elas configuram o campo da intertextualidade, a recriação, as influências e outras relações que ocorrem entre duas ou mais obras da mesma natureza ou até de naturezas diversas. Os mais conhecidos tipos de intertexto são a paráfrase, a paródia e a epígrafe.

Atividades

1. Plágio ou inspiração? - Leia com os alunos a reportagem "Modelo lusitano", destacando os trechos: "Era natural que esses textos inspirassem outros escritores europeus" e "No caso de Defoe, contudo, a inspiração beira o plágio".

Em seguida, poderão ser discutidos os termos "inspiração" e "plágio". Segundo o Aurélio, plagiar é assinar ou apresentar como sua uma obra artística ou científica de outrem; imitar ou copiar trabalho alheio. Mas onde termina o apoio numa obra inspiradora e começa o plágio? Muitos processos sobre plágios musicais correm na justiça, em virtude dessas fronteiras nebulosas.

2. Tipos de intertextualidade - A partir dessas discussões, e do exame das diferenças entre "copiar", "imitar" e "inspirar-se em", seus alunos poderão chegar à definição básica de intertextualidade. Proponha em seguida o estudo de textos, distinguindo:

  • paráfrase: reprodução da idéia de um texto com o emprego de outras palavras e outra montagem.
  • paródia: inversão proposital do sentido de um texto, por meio da ironia.
  • epígrafe: uso que um autor faz de um fragmento de texto de outro autor, para apoiar sua visão pessoal.

Os tipos de intertexto podem ser exemplificados por algumas das "canções do exílio" da literatura brasileira, inspiradas na Canção do Exílio de Gonçalves Dias, de 1843. Podemos citar, entre as paródias, o poema Migna Terra, de Juó Bananere (escrito na década de 1920 em "dialeto ítalo-paulista"), Canto de Regresso à Pátria, de Oswald de Andrade (1928), e Canção do Exílio Facilitada, de José Paulo Paes (1986).

3. Leve os alunos a comparar a Canção do Exílio com as paródias apresentadas no box, e também com o poema Europa, França e Bahia, de Carlos Drummond de Andrade, escrito em 1930 (exemplo de paráfrase), e a canção Sabiá, de Chico Buarque de Holanda (exemplo genérico de intertextualidade). Nesta análise comparada, é importante salientar sempre a data das obras. Em seguida, peça a cada aluno para escrever sua própria "canção do exílio".

4. Compare com os alunos trechos de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, romance de 1853, e da peça Vidigal ¬ Memórias de um Sargento de Milícias, escrita por Millôr Fernandes em 1981.

5. Organize um trabalho interdisciplinar com a área de Educação Artística. Nesse caso, serão examinadas algumas relações entre obras de artes plásticas e obras literárias. Destaque a ressonância entre a literatura e as artes plásticas de uma determinada época. No Romantismo brasileiro, por exemplo, tanto na literatura quanto na pintura, o índio, símbolo do nativismo, foi uma figura celebrada. No Simbolismo, o mistério, a magia e a recusa da razão estão presentes na literatura, na pintura e em outras artes.

Além disso, mostre aos alunos como os recursos da criação intertextual agem nas artes plásticas: uma obra-prima inspira outros trabalhos, embora ocorram variações temáticas e de estilo. Pode-se comparar, por exemplo, a Pietà, de Michelangelo (1498), e Criança Morta, de Cândido Portinari (1944).

Canções do Exílio: Intertextos

Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

(...) Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu´inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Juó Bananere
Migna terra tê parmeras,
Che ganta inzima o sabiá.
As aves que stó aqui,
Tambê tutto sabi gorgeá.

(...) Os rios lá só maise grandi
Dus rio di tuttas naçó;
I os matto si perdi di vista,
No meio da imensidó.

Oswald de Andrade
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

(...) Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

José Paulo Paes
lá?
ah!

sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...

cá?
bah!

Intertextualidade e história da Literatura
Com base no conceito de intertextualidade, faça uma revisão cronológica dos grandes movimentos de nossa literatura, enfatizando temas de uma época que foram retomados por outra. Exemplos:

Arcadismo como retomada do Classicismo renascentista e este como retomada da literatura greco-romana (em Portugal e no Brasil). Os árcades do século XVIII, que se declaravam herdeiros espirituais dos pastores e poetas da Arcádia, região da antiga Grécia, afirmavam em suas obras a visão idílica da vida no campo e buscavam a simplicidade, rompendo com as formas rebuscadas do Barroco. Tomás Antônio Gonzaga (1744 - 1819), poeta e inconfidente, é um dos árcades mais conhecidos.

Romantismo como retomada da literatura medieval (na Europa), em oposição ao Classicismo. Um exemplo é o romance histórico, criado por Walter Scott (1771-1832), numa mescla de medievalismo e nacionalismo.

Simbolismo como retomada do Romantismo, negando a “rigidez” das formas do Parnasianismo e também a “crueza” do romance naturalista. Entre os simbolistas brasileiras destaca-se o poeta negro Cruz e Sousa (1851-1898). Por meio desses ejemplos de retomada/ruptura, será possível explorar o conceito de movimento “pendular” na história da Literatura.


BIBLIOGRAFIA
Paródia, Paráfrase & Cia., Affonso Romano de Sant’Anna, Ed. Ática.
Consultoria Carlos Emílio Faraco, professor de literatura e autor de livros didáticos para o Ensino Médio.

Publicado pelo site Nova Escola: http://www.novaescola.com.br/

Para professores

Ensine que nem todo texto picante precisa ser pornográfico

Literatura

Objetivos
Debater sobre conceitos de erotismo e pornografia e analisar as características do gênero literário erótico.

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Reportagem da Veja: O sexo e as letras

Introdução
Safo, Aristófanes, Petrônio, La Fontaine, Baudelaire, Paul Valéry, Marquês de Sade, Henry Miller, Boccaccio, D. H. Lawrence, Nabokov, Gregório de Matos, Machado de Assis, Caio Fernando Abreu, Hilda Hist. É mesmo longa e estrelada a lista de escritores que recorreram ao erotismo para deixar seus textos deliciosos – e muitas vezes quase impublicáveis.
VEJA revela que 38 obras picantes de alguns desses mestres, todas ricamente ilustradas, foram selecionadas entre o acervo da biblioteca do Museu Castro Maya, no Rio de Janeiro. Elas vão compor uma mostra sobre a relação entre arte e erotismo ao longo do tempo. A resenha sobre a exposição dá o mote para você listar características marcantes da chamada literatura erótica e explicar o que a torna diferente dos escritos pornográficos. A discussão ainda pode ser enriquecida com textos lascivos. Este plano de aula inclui diversos exemplos.

Providencie um exemplar da Bíblia e leve para a classe. Faça cópias dos quadros abaixo e distribua para os estudantes. Deixe disponível um computador ligado à internet para a turma realizar as pesquisas aqui sugeridas.

Atividades
Oriente a leitura da reportagem e explique à turma que o erotismo é um tema universal tão antigo quanto a própria humanidade. Destaque as obras e os autores citados no primeiro parágrafo do texto da reportagem de VEJA associada a esse plano.
No caso da Bíblia, lembre como termina a história de Adão e Eva. Será que a nudez dos personagens pode ser considerada um elemento erótico? Por quê? Ressalte que, inspirados nesses escritos, pintores, escultores, dramaturgos, coreógrafos e cineastas elaboraram suas obras e, com isso, cristalizaram no imaginário universal histórias de amor tórridas, como a vivida pela ninfeta Lolita, criação do russo Vladimir Nabokov. Mesmo censurado, o romance conquistou o mundo e foi adaptado para o cinema duas vezes.

Conte que 15 séculos antes de Cristo, num poema religioso indiano intitulado Rig Veda, era possível ler: “E o homem deseja a mulher / Tão naturalmente / Quanto a rã sedenta deseja a chuva”. O que os jovens pensam desse trecho? Ouça os comentários e investigue o que eles sabem sobre erotismo. Explique que a expressão tem origem na palavra grega Eros, nome do deus alado do amor, representado freqüentemente com os olhos vendados e munido de arco, flechas e carcás.

Pergunte se erotismo e pornografia podem ser considerados sinônimos. Conte que para o escritor francês André Breton pornografia nada mais é do que o erotismo dos outros. Deixe que os alunos pensem nesse conceito e estimule a leitura da entrevista que a escritora brasileira Betty Milan concedeu sobre o tema. A conversa foi reproduzida no site indicado no final deste roteiro.


Pica-Flor
Gregório de Matos

A uma freira que satirizando
a delgada fisionomia do poeta
lhe chamou "Pica-Flor"

Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber
Se no nome que me dais,
Meteis a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.

Extraído de Obras Completas, Ed. Record.


Lance mão da Bíblia e peça que a turma compare as seguintes metáforas, extraídas do livro Cântico dos Cânticos.
  • Descrição da amada: “Teus cabelos são como um rebanho de cabras, esparramando-se pelas encostas do Monte Galaad / Teus dentes são como um rebanho de ovelhas tosquiadas, recém-saído do lavadouro: cada um com seu par, sem perda alguma”.
  • Descrição do amado: “O meu amado é franco e corado / Inconfundível entre milhares: a cabeleira é como leques de palmeira / Seus lábios são como lírios / Seu corpo é marfim lavrado, / recoberto de safiras / Suas pernas são colunas de alabastro”.

Explore o erotismo das duas passagens e compare-as com a que o famoso conquistador e escritor italiano Giácomo Casanova fez no século XVIII de Madame Baret, uma de suas personagens: “Os olhos eram grandes e luminosos. As longas pestanas caídas dando-lhe um ar de recato e, ao mesmo tempo, de volúpia; aquela boca, de dentes esplêndidos, sempre sorridente, a estonteante brancura da pele; a agradável expressão atenta com que sabia ouvir o que lhe diziam; a voz límpida”.

Apresente alguns exemplos da literatura erótica produzida no Brasil. Primeiro, leia e analise com os jovens a décima de Gregório de Matos e o trecho do conto de Machado de Assis, transcritos neste plano de aula. Ressalte que o poema do Boca do Inferno foi produzido no período barroco. Já o conto, considerado um dos mais eróticos do autor de Dom Casmurro, é da passagem da escola romântica para a realista. Incentive os adolescentes a buscar na internet a íntegra de Missa do Galo e depois ambientar a trama nos dias de hoje. Que figurino teria a balzaquiana Conceição? Será que o jovem narrador seria tão ingênuo?


Missa do Galo
Machado de Assis

Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas, as mangas caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros, e menos magros do que se poderiam supor. (...) A impressão que tive foi grande. (...) Quando eu alteava um pouco a voz, ela reprimia-me:
— Mais baixo! Mamãe pode acordar.

E não saía daquela posição, que me enchia de gosto, tão perto ficavam as nossas caras. Realmente, não era preciso falar alto para ser ouvido; cochichávamos os dois, eu mais que ela, porque falava mais (...). Afinal, cansou; trocou de atitude e de lugar. Deu volta à mesa e veio sentar-se do meu lado, no canapé. Voltei-me, e pude ver, a furto, o bico das chinelas; mas foi só o tempo que ela gastou em sentar-se, o roupão era comprido e cobriu-as logo. Recordo-me que eram pretas. Conceição disse baixinho:
— Mamãe está longe, mas tem o sono muito leve; se acordasse agora, coitada, tão cedo não pegava no sono.
— Eu também sou assim.
— O quê? Perguntou ela inclinando o corpo para ouvir melhor.

Fui sentar-me na cadeira que ficava ao lado do canapé e repeti a palavra. Riu-se da coincidência; também ela tinha o sono leve; éramos três sonos leves.
— Há ocasiões em que sou como mamãe: acordando, custa-me dormir outra vez, rolo na cama, à toa, levanto-me, acendo vela, passeio, torno a deitar-me, e nada.
— Foi o que lhe aconteceu hoje.
— Não, não, atalhou ela.

Extraído de Histórias da Meia-Noite, Cia. Editora Nacional.


Bibliografia
História da Literatura Erótica, Alexandrian, Ed. Rocco.
Filmografia
Encontros e Desencontros, Sofia Coppola, Universal Pictures.
Internet
O site www2.uol.com.br/bettymilan/entrevistas/08paixao.htm traz as opiniões da escritora brasileira sobre literatura erótica.


Consultoria Heloísa Cerri Ramos
Assessora de Língua Portuguesa do Colégio Sidarta, de Cotia, SP

Publicado pelo site Nova Escola: www.novaescola.com.br

Para professores

Língua Portuguesa
Revisão de textos

Conteúdo: Pontuação

Introdução
Ensinar a revisar textos é um conteúdo que deve ser tratado desde as séries iniciais. O aluno precisa incorporar tais conhecimentos gradativamente, ampliar e fazer uso deles com o objetivo de deixar seus textos mais comunicativos, ou seja, objetivos na comunicação de idéias. Para isso, é necessário que o professor:

  • Utilize diferentes tipos de textos pertinentes à série, colocando seus alunos em contato com bons modelos.
  • Selecione em qual aspecto da revisão (coerência, ortografia, acentuação ou aspectos coesivos e de pontuação) o aluno focará a atenção, já que não é possível tratar de todos os aspectos ao mesmo tempo.

Este plano de aula propõe uma atividade cujo foco é a Pontuação. Nem sempre os alunos chegam à correção plena dentro do que havia sido proposto. Mas o objetivo não é alcançar a perfeição. O que importa é apresentar questões pertinentes nas situações didáticas, fazendo com que a turma reflita e avance. Apresentamos a seguir uma sugestão de aula que pode se tornar uma atividade permanente, desde que se trabalhe com diferentes gêneros textuais a cada aula.

A revisão é um procedimento difícil para escritores iniciantes, pois requer distanciamento do próprio texto. As crianças nas séries iniciais são capazes de corrigir textos produzidos por outras pessoas mas, em se tratando dos seus próprios, dificilmente fazem uso desse conhecimento. Por isso, é interessante propor que as crianças comparem seus textos com os produzidos por outras pessoas e os analise em grupo.

Isso deve ser feito em parceria e com quem já sabe fazer uso do procedimento da revisão. O professor deverá orientar o trabalho lançando questões que façam os alunos refletir e avançar, tais como:

  • Onde começa e termina a fala de tal personagem?
  • Por que você usou este ponto neste lugar?
  • O trecho pontuado por vocês está fazendo sentido? Explique o sentido desta frase.
  • Faz diferença usar a vírgula ou o ponto neste trecho? Por quê?

Depois, cada agrupamento deve apresentar seu texto pontuado. Trata-se de uma ocasião rica para discutir e refletir, pois certamente surgirão diferentes formas de pontuar. Os alunos terão oportunidade de argumentar a validade ou não de cada trabalho apresentado.

Tradicionalmente, a gramática ensina que a pontuação é um conjunto de sinais que orienta a entonação da leitura em voz alta. Informações do tipo: "Usem o ponto final quando estiverem cansados. A vírgula serve para indicar uma paradinha. Usa-se ponto de interrogação para perguntar...", provavelmente estão embasadas na história da escrita, quando os livros eram escritos à mão, sem espaços entre as palavras e a leitura era feita em voz alta. Quem pontuava e dava um sentido ao texto era o leitor.

"A prática de leitura silenciosa disseminou-se a partir da produção de livros em escala industrial... Hoje, quando o texto impresso é formatado para ser lido diretamente pelo olho, sem precisar passar pela sonorização do que está escrito, esta função, de estreitar o campo das possibilidades de interpretação indicando graficamente as unidades de processamento e sua hierarquia interna, pertence ao escritor."

PCN - Língua Portuguesa - MEC/1997

Objetivos:
Com esta atividade o aluno deve ser capaz de:

  • Cconstruir um comportamento revisor em relação a seu próprio texto e ao dos outros.
  • Perceber que a pontuação é um recurso utilizado pelo autor para orientar o entendimento do leitor.
  • Constatar que, na maioria das vezes, há mais de uma possibilidade de pontuação.
  • Desenvolver a capacidade de argumentação.
  • Desenvolver a atitude de colaboração.

Ano: 3º ano

Tempo estimado: 10 aulas

Material necessário:

  • Lousa e giz (ou papel Kraft e pincel atômico; ou retroprojetor, transparência e caneta hidrográfica).
  • Papel e lápis.

Desenvolvimento da atividade:
Apresente um texto curto sem nenhuma marcação gráfica, como ponto, maiúscula, travessão, parágrafo etc. Piadas são bastante interessantes para o exercício, desde que os alunos tenham tido contato com esse tipo de texto.

  • Peça aos alunos para que, em grupos (duplas ou trios), marquem as unidades que facilitem a sua leitura com algum sinal.
  • Solicite que reescrevam o texto, utilizando a pontuação que julgarem adequada.
  • Socialize para toda a turma as diversas possibilidades apresentadas pelos diferentes grupos.
  • Discuta essa adequação, o significado e o entendimento do texto pontuado de diferentes formas.

Avaliação:
Durante o desenvolvimento da atividade, é possível avaliar como o aluno:

  • Utiliza em outros contextos de produção escrita, os conhecimentos que constrói a respeito da pontuação (veja o 1º objetivo).
  • Usa seus conhecimentos diante do texto para pontuá-lo a fim de atribuir significado a ele (veja o 2º e o 3º objetivos).
  • Argumenta para defender o seu ponto de vista (veja o 4º objetivo).
  • Colabora com o grupo (veja o 5º objetivo).

BIBLIOGRAFIA
Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa: de 1ª a 4ª série, Secretaria de Educação Fundamental, Brasília, 1997.
Por trás das letras, Telma Weisz, FDE, São Paulo, 1992.

Consultor: Leika Watanabe, pedagoga.

Publicado pelo site Nova Escola: www.novaescola.com.br

Plano de aula

Objetivos:
  • Familiarizar-se com o gênero expositivo.
  • Aprender procedimentos de revisão.
  • Reconhecer as características de fichas técnicas e produzi-las para um mural a ser exibido na escola.

Conteúdos:

  • Produção textual (textos informativos).
  • Procedimentos de pesquisa.
  • Revisão.

Anos: 1º ao 5º.

Tempo estimado: Três meses.

Material necessário: Enciclopédias e revistas de informação, tesoura, cola, cartolina, canetinhas e papéis.

Desenvolvimento:
1ª etapa

Inicie compartilhando com a turma como será o produto final. É o momento de dividir com os alunos o que vão aprender, a razão de estudar o conteúdo, o que vão produzir e para quem vão apresentar. No caso do mural de animais em extinção, conte que o desafio é organizar, em fichas técnicas, o que sabem sobre o assunto para apresentá-los à comunidade da escola e às famílias.

2ª etapa
Para que os estudantes escrevam um texto informativo, precisam antes se familiarizar com ele. Aborde esse aspecto pedindo que eles levem livros, fotos e reportagens que julgue interessantes sobre animais em extinção. Amplie esse acervo com enciclopédias, livros, revistas e sites sobre o assunto, cuidando para incluir fichas técnicas, pois elas serão uma referência para o trabalho da turma. Organize situações de leitura, conversando sobre como o texto é escrito, qual tipo de informação ele traz, de que modo os dados são descritos e quais os termos mais usados.

3ª etapa
Depois da familiarização com os materiais, é hora de se debruçar sobre eles para selecionar informações. Divida a garotada em grupos e distribua os materiais para pesquisa. Aborde procedimentos como busca, seleção e anotação das informações relevantes, rediscutindo-os até que o resultado da pesquisa seja satisfatório.

4ª etapa
Momento de usar as informações levantadas para a elaboração das fichas técnicas. Para isso, preveja momentos de escrita tanto em grupo como individualmente. A comparação e a referência a bons exemplos de fichas técnicas, assim como o retorno aos textos para recuperar e ampliar as informações são sempre úteis.

5ª etapa
Organize uma ou mais sessões de revisão coletiva que sirvam de modelo para a atuação dos alunos. Destaque todos os aspectos que podem ser revisados: organização da linguagem, ortografia e informações.

6ª etapa
Traga exemplos para que a turma saiba como montar um mural. Alerte para a necessidade de ilustração, de título e do tamanho das letras das fichas para a leitura, tendo sempre em vista as especificidades do público.

Produto final:

  • Mural de fichas técnicas.

Avaliação:
Durante todo o projeto, avalie, nas falas e nas produções das crianças, se elas conseguiram obter informações corretas e suficientes em tabelas e esquemas, transpondo-as adequadamente para o mural.

Consultoria: Beatriz Gouveia e Débora Rana, formadoras de professores do Instituto Avisa Lá, em São Paulo, SP.

Publicado pelo site Nova Escola: www.novaescola.com.br

Para alunos

O hífen deixa de ser empregado nas seguintes situações:

  • Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com as consoantes s ou r. Nesse caso, a consoante obrigatoriamente passa a ser duplicada.
  • Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente.

COMO É HOJE

  • anti-religioso
    anti-semita
  • auto-aprendizagem
    auto-estrada
  • contra-regra
    contra-senha
  • extra-escolar
  • extra-regulamentação

COMO VAI FICAR

  • antirreligioso
  • antissemita
  • autoaprendizagem
  • autoestrada
  • contrarregra
  • contrassenha
  • extraescolar
  • extrarregulamentação

NO ENTANTO, o hífen permanece quando o prefixo termina com r (hiper, inter e super) e a primeira letra do segundo elemento também é r.

Exemplos: hiper-requintado, super-resistente.

Para professores

Voo tranquilo na sala de aula

Os especialistas são unânimes em dizer que é desnecessário separar um tempo específico para trabalhar a nova ortografia na escola, mesmo em turmas já alfabetizadas. As regras devem ser objeto de reflexão e discussão somente durante atividades de re-escrita e de revisão de texto que estarão previstas no planejamento. Confira algumas sugestões que podem ser incorporadas à rotina escolar.

1. Peça que os alunos escrevam cartazes com as palavras que eles mais usam cuja grafia foi alterada. Deixe o material exposto na sala.

2. Organize a produção coletiva de um manual com as novas regras, acompanhadas de exemplos. Assim os estudantes terão outro material de consulta sempre à mão. É importante que todos participem da elaboração.

3. Combine com a turma o período em que a grafia antiga será aceita e quando ela passará a ser considerada incorreta. O prazo deve ser estabelecido quando você perceber que todos já incorporaram as mudanças.

4. Planeje momentos para apontar e comentar as alterações – mas sem se desviar do conteúdo previsto para trabalhar. Durante a leitura de um determinado texto, se surgir a palavra geleia grafada da maneira antiga (geléia), incentive os alunos a justificar o "erro", descobrindo, por exemplo, quando o livro foi impresso.

5. Identifique o acervo da biblioteca com etiquetas que informem os exemplares publicados com a grafia antiga, como se pode ver na foto abaixo.


E não se esqueça: desde já, use as novas regras para escrever comunicados para os pais e alunos e também para produzir todo o material exposto nas paredes da escola (exatamente como você está lendo nesta reportagem).

Consultoria Cleuza Bourgogne, diretora pedagógica da Escola Móbile, e Elaine Rissato, coordenadora pedagógica da EMEF Olavo Pezzotti, ambas de São Paulo.