Literatura
Objetivos
Debater sobre conceitos de erotismo e pornografia e analisar as características do gênero literário erótico.
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Reportagem da Veja: O sexo e as letras
Safo, Aristófanes, Petrônio, La Fontaine, Baudelaire, Paul Valéry, Marquês de Sade, Henry Miller, Boccaccio, D. H. Lawrence, Nabokov, Gregório de Matos, Machado de Assis, Caio Fernando Abreu, Hilda Hist. É mesmo longa e estrelada a lista de escritores que recorreram ao erotismo para deixar seus textos deliciosos – e muitas vezes quase impublicáveis.
Providencie um exemplar da Bíblia e leve para a classe. Faça cópias dos quadros abaixo e distribua para os estudantes. Deixe disponível um computador ligado à internet para a turma realizar as pesquisas aqui sugeridas.
Atividades
Oriente a leitura da reportagem e explique à turma que o erotismo é um tema universal tão antigo quanto a própria humanidade. Destaque as obras e os autores citados no primeiro parágrafo do texto da reportagem de VEJA associada a esse plano.
Conte que 15 séculos antes de Cristo, num poema religioso indiano intitulado Rig Veda, era possível ler: “E o homem deseja a mulher / Tão naturalmente / Quanto a rã sedenta deseja a chuva”. O que os jovens pensam desse trecho? Ouça os comentários e investigue o que eles sabem sobre erotismo. Explique que a expressão tem origem na palavra grega Eros, nome do deus alado do amor, representado freqüentemente com os olhos vendados e munido de arco, flechas e carcás.
Pergunte se erotismo e pornografia podem ser considerados sinônimos. Conte que para o escritor francês André Breton pornografia nada mais é do que o erotismo dos outros. Deixe que os alunos pensem nesse conceito e estimule a leitura da entrevista que a escritora brasileira Betty Milan concedeu sobre o tema. A conversa foi reproduzida no site indicado no final deste roteiro.
Pica-Flor
Gregório de Matos
A uma freira que satirizando
a delgada fisionomia do poeta
lhe chamou "Pica-Flor"
Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber
Se no nome que me dais,
Meteis a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.
Extraído de Obras Completas, Ed. Record.
Lance mão da Bíblia e peça que a turma compare as seguintes metáforas, extraídas do livro Cântico dos Cânticos.
- Descrição da amada: “Teus cabelos são como um rebanho de cabras, esparramando-se pelas encostas do Monte Galaad / Teus dentes são como um rebanho de ovelhas tosquiadas, recém-saído do lavadouro: cada um com seu par, sem perda alguma”.
- Descrição do amado: “O meu amado é franco e corado / Inconfundível entre milhares: a cabeleira é como leques de palmeira / Seus lábios são como lírios / Seu corpo é marfim lavrado, / recoberto de safiras / Suas pernas são colunas de alabastro”.
Explore o erotismo das duas passagens e compare-as com a que o famoso conquistador e escritor italiano Giácomo Casanova fez no século XVIII de Madame Baret, uma de suas personagens: “Os olhos eram grandes e luminosos. As longas pestanas caídas dando-lhe um ar de recato e, ao mesmo tempo, de volúpia; aquela boca, de dentes esplêndidos, sempre sorridente, a estonteante brancura da pele; a agradável expressão atenta com que sabia ouvir o que lhe diziam; a voz límpida”.
Apresente alguns exemplos da literatura erótica produzida no Brasil. Primeiro, leia e analise com os jovens a décima de Gregório de Matos e o trecho do conto de Machado de Assis, transcritos neste plano de aula. Ressalte que o poema do Boca do Inferno foi produzido no período barroco. Já o conto, considerado um dos mais eróticos do autor de Dom Casmurro, é da passagem da escola romântica para a realista. Incentive os adolescentes a buscar na internet a íntegra de Missa do Galo e depois ambientar a trama nos dias de hoje. Que figurino teria a balzaquiana Conceição? Será que o jovem narrador seria tão ingênuo?
Missa do Galo
Machado de Assis
Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas, as mangas caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros, e menos magros do que se poderiam supor. (...) A impressão que tive foi grande. (...) Quando eu alteava um pouco a voz, ela reprimia-me:
— Mais baixo! Mamãe pode acordar.
E não saía daquela posição, que me enchia de gosto, tão perto ficavam as nossas caras. Realmente, não era preciso falar alto para ser ouvido; cochichávamos os dois, eu mais que ela, porque falava mais (...). Afinal, cansou; trocou de atitude e de lugar. Deu volta à mesa e veio sentar-se do meu lado, no canapé. Voltei-me, e pude ver, a furto, o bico das chinelas; mas foi só o tempo que ela gastou em sentar-se, o roupão era comprido e cobriu-as logo. Recordo-me que eram pretas. Conceição disse baixinho:
— Mamãe está longe, mas tem o sono muito leve; se acordasse agora, coitada, tão cedo não pegava no sono.
— Eu também sou assim.
— O quê? Perguntou ela inclinando o corpo para ouvir melhor.
Fui sentar-me na cadeira que ficava ao lado do canapé e repeti a palavra. Riu-se da coincidência; também ela tinha o sono leve; éramos três sonos leves.
— Há ocasiões em que sou como mamãe: acordando, custa-me dormir outra vez, rolo na cama, à toa, levanto-me, acendo vela, passeio, torno a deitar-me, e nada.
— Foi o que lhe aconteceu hoje.
— Não, não, atalhou ela.
Extraído de Histórias da Meia-Noite, Cia. Editora Nacional.
Bibliografia
História da Literatura Erótica, Alexandrian, Ed. Rocco.
Filmografia
Encontros e Desencontros, Sofia Coppola, Universal Pictures.
Internet
O site www2.uol.com.br/bettymilan/entrevistas/08paixao.htm traz as opiniões da escritora brasileira sobre literatura erótica.
Consultoria Heloísa Cerri Ramos
Assessora de Língua Portuguesa do Colégio Sidarta, de Cotia, SP
Publicado pelo site Nova Escola: www.novaescola.com.br
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